9 de dezembro de 2008

Cada dia da Criação=7000 anos: A fantasia da Torre de Vigia

José Carlos Ramos

A teoria sustentada pelas pretensas testemunhas de Jeová de que cada dia da semana da Criação equivale a 7.000 anos não passa de uma fantasia muito bem elaborada para se enquadrar na excêntrica escatologia da Torre de Vigia.

É verdade que a palavra hebraica yom (dia), utilizada em Gênesis 1, pode significar um tempo de duração indefinido, como quando dizemos em português dia do juízo. Mas nunca na Bíblia o termo é utilizado com o sentido de épocas, eras geológicas, ou período fixo de tempo que não aquele que costumamos chamar de dia. Isto é verdade principalmente em Gênesis 1, onde yom se faz acompanhar de um numeral (primeiro, segundo, etc.). Aliás, em toda a Bíblia, quando isto acontece (yom acompanhado de numeral), o único significado deste termo é dia (período composto de uma parte escura e outra clara, abrangendo 24 horas, ou então, mais raramente, a parte clara desse período).

Em Gênesis 1:5, yom é empregado duas vezes: a primeira, colocado em contraste com a parte escura (noite), refere-se à parte clara do período de 24 horas, como quando dizemos que Deus nos deu o dia para trabalha e a noite para descansa:

O segundo emprego é acompanhado do numeral “primeiro yom”, e aponta, sem sombra de dúvida, para o primeiro período de 24 horas da semana da Criação. Já em Gênesis 2:4, yom abrange todos os yoms citados previamente. Neste texto, yom pode ser perfeitamente traduzido para quando: “Esta é a gênese dos céus e da Terra no dia em que foram criados”. “Esta é a gênese dos céus e da Terra quando foram criados.” (Ênfase acrescentada.)

Pelo menos oito evidências podem ser apresentadas como indicativas de que os dias da semana da Criação não podem ser constituídos de 7.000 anos mas sim de 24 horas:

1.O acompanhamento do numeral à palavra yom. Com o numeral, este termo significa na Bíblia sempre o que entendemos por dia, como visto acima.

2.Deus não precisava de longo tempo para efetuar Sua criação. É absurdo imaginar que depois de criar a luz (primeiro dia) esperou Ele 7 mil anos para criar a atmosfera (2º dia), e mais 7 mil para fazer aparecer o solo (porção seca) e criar as plantas (3º dia); e assim por diante, com respeito a cada coisa criada nos demais dias. Muito ao contrário, o relato bíblico deixa entrever que as coisas aparecem tão logo Deus as ordena, ou age para criá-las.

Por exemplo, nos versos 11 e 12, Deus ordena que as plantas brotem; a resposta à ordem divina é imediata, mesmo neste caso em que algum tempo poderia ser tomado entre uma coisa e outra, pois sabemos que leva tempo para que uma planta brote. Mesmo aqui, todavia, a resposta é imediata, naturalmente pelo poder de Deus. Sobre as pragas no Egito, é dito que Deus “falou, e vieram gafanhotos” (Sal. 105:34). Já imaginamos se Deus tivesse falado e levasse 7.000 anos para os gafanhotos virem?! Com efeito, o Salmo 33:9 afirma, sobre a Criação, que “Ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir” (ênfase suprida). Mesmo que as testemunhas aleguem que a Criação é realmente instantânea, e que o que requer um período de 7.000 anos é o tempo entre uma coisa criada e outra, continua a ser absurdo que Deus crie algo, em Seu plano da criação da Terra, e espere tão longo tempo para criar o elemento seguinte, como já referimos no início das considerações desta evidência. Além disso, este raciocínio resulta em determinadas impropriedades, duas das quais são referidas nas evidências 4 e 5 abaixo.

3. O uso da expressão “tarde e manhã” denota um dia de 24 horas tarde noite (parte escura, que vem primeiro) manhã = dia (parte clara, que vem depois da noite). Aí é dito que “houve tarde e manhã” (singular) e não “houve tardes e manhãs” (plural), o que seria requerido se 7.000 anos estivessem sendo referidos.

4. As plantas, criadas no terceiro dia, não suportariam tanto tempo sem a luz solar, que aparece no quarto dia, fossem esses dias equivalentes a 7.000 anos. Aliás, nenhuma forma de vida suporta tanto tempo sem a luz solar.

5. Deus criou as coisas neste mundo de tal forma que plantas necessitam da vida animal e animais necessitam da vida vegetal. Os animais (incluindo o ser humano) foram criados no quinto e sexto dias, pelo menos 14.000 anos depois das plantas segundo a teoria das “testemunhas”. Como poderiam as plantas sobreviver tanto tempo sem os animais?

6. A idade de Adão é outra evidência da impropriedade da teoria dos 7.000 anos. Ele foi criado no sexto dia. O ato de Adão dar nomes aos animais (Gên. 2:19 e 20) e o de Deus ter, após isso, criado Eva (versos 21 e 22) foram cumpridos ainda no sexto dia, pois Gênesis 1:26-31, principalmente o verso 27, afirma que a mulher surgiu também no sexto dia. Isto indica que Adão mesmo não foi criado no final do sexto dia, caso contrário, não teria havido tempo para o que ele e Deus fizeram em seguida, ainda nesse dia. Uma boa parte desse dia deveria transcorrer desde a criação de Adão, no mínimo, eu diria, 1/4 dele, o que na teoria das “testemunhas” corresponderia a 1.750 anos (7.000 dividido por 4). Mas Gênesis 5:5 declara que os anos de vida do primeiro homem (isto é, desde que ele foi criado) foram 930. Para haver harmonia entre o que ensinam as testemunhas e este texto seria necessário que Adão tivesse sido criado no ocaso, no apagar das luzes, no finalzinho do sexto dia (ou período de 7.000 anos segundo elas), e isso é totalmente improvável.

7. O mandamento do sábado (Êxo. 20:8-11) é dado em função da obra criadora de Deus. Deus pede que se trabalhe em seis dias e se descanse no sétimo porque Ele também trabalhou em seis dias e descansou no sétimo. Em outras palavras, o plano de trabalharmos em seis dias (claro, de 24 horas) e descansarmos em um (claro, também de 24 horas) está em perfeito paralelo com o ato criador de Deus. A analogia exige, portanto, que os dias da Criação sejam de 24 horas cada.

8. Se cada dia da semana da Criação é composto de 7.000 anos, então o descanso de Deus no sétimo dia ainda prossegue, pois ainda não são passados 7.000 anos desde o término da Criação. Mas Jesus foi claro em dizer que Deus não continua descansando; muito ao contrário, Ele afirmou: “Meu Pai trabalha até agora e Eu Listo é, Jesus, o companheiro de Deus na Criação e que por isso seria também companheiro no descanso] trabalho também” (João 5:17, ênfase suprida).

Mesmo no relato da Criação está a evidência de que o descanso de Deus não perdura, mas é um ato consumado lá no princípio: a forma verbal “descansou” em lugar de descansa (Gên. 2:2 e 3), pressupõe esta idéia. E devemos lembrar que é pelo fato de Deus ter descansado no sétimo dia que Ele abençoou e santificou esse dia (Gên. 2:3). Esse dia aqui representa um período de 24 horas, correspondente ao sétimo dia semanal, e não a um espaço de milhares de anos. Não tem sentido afirmar que Deus abençoou e santificou um período de 7.000 anos.

Tampouco adianta apelar para o “descanso” de Hebreus 4 em combinação com o milênio do Apocalipse (o que as Testemunhas costumam fazer) porque mesmo segundo o cálculo da Torre de Vigia, com base numa interpretação cronológica literalística da Bíblia, estamos a mais de 6.000 anos desde a entrada do pecado (estes teriam expirado em 1975), o que, computados ao milênio do Apocalipse, extrapolam 7.000 anos.

Assim, como dissemos no início a teoria dos 7.000 anos é pura fantasia.



Fonte: Revista Adventista/ abril de 2000, págs. 32 e 33.

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