Rodrigo Assis Correia
Este presente estudo sobre o livro de Deuteronômio não se demorará(embora importantes) nas questões concernentes à autoria e data, ou ao contexto social da época. Ele se delimitará em indentificar um paralelismo do primeiro sermão de Moisés localizado em Dt 4:1-40, na qual ele exorta o povo de Israel à obediência, com a mensagem do livro do Apocalipse. No caso de Deuteronômio, o estudo será feito de modo seqüencial dos versículos do capítulo quatro. Isso será de grande importância para demonstrar que a mensagem que Deus dera no Antigo Testamento não se tornou descartável no Novo Testamento, como desejavam alguns ao longo da história,[1] e sim, exaltada pelo ministério de Cristo, proclamada pelo livro de Apocalipse e necessária aos cristãos de todos os tempos.
Para tanto, a Bíblia será a principal fonte de estudo, e complementado por alguns comentários bíblicos. Os paralelismos encontrados nos trechos bíblicos serão colocados em negrito para uma melhor identificação.
CAPÍTULO 1
DOIS PERÍODOS - UMA SÓ MENSAGEM
Não seria difícil imaginar que possa ocorrer uma mensagem paralela entre Deuteronômio e Apocalipse, pois o livro de Deuteronômio não somente influenciou os escritos posteriores do Antigo Testamento, mas também foi marcante no período neotestamentário podendo ser "vista em quase todas as partes do Novo Testamento".[2] No que se refere ao livro do Apocalipse, o Antigo Testamento foi vastamente utilizado pelo apóstolo João, onde o cita "algumas centenas de vezes".[3]
Um dos primeiros paralelos que se pode ver é as circunstâncias na qual os
dois livros foram escritos. Ambos foram elaborados numa época de transição de gerações e expectativas quanto ao futuro. Deuteronômio, apresenta Moisés, o único
que falava face a face com Deus, exortando o povo de Israel a se firmar nas leis de Deus,[4] pois uma nova experiência surgiria adiante. Apocalipse mostra João,[5] o único
sobrevivente dos discípulos, daqueles que mantinham um contato íntimo com Jesus, necessitando orientar e fortalecer a Igreja, preparando-a para um novo período que surgiria.
A mensagem de ambos os livros, como será vista nos versículos seguintes, apresenta Deus chamando o ser humano para apegar-se à Sua palavra como única fonte segura de salvação.
1.o Paralelismo: Guardar e Cumprir a Mensagem
"Agora, pois, ó Israel, ouve os estatutos e os juízos que eu vos ensino, para os cumprirdes, para que vivais, e entreis e possuais a terra que o Senhor, Deus de vossos pais vos dá " (Dt 4:1).
"Bem aventurado aqueles que lêem, aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo" (Ap 1:3).
Ambos escritos mostram que essas palavras não podem ficar só no ouvir é necessário cumprir e praticar a Palavra de Deus. Preparam o povo para permanecerem
firmes nas Escrituras, pois o tempo está próximo e existe a expectação de uma nova
terra.
2.o Paralelismo: Uma Mensagem Intacta
"Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do vosso Deus que eu vos mando"(Dt. 4:2).
"Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo [...] e se alguém tirar qualquer cousa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa, e das cousas que sejam escritas neste livro". (Ap 22:18,19).
Concomitantemente, os dois textos mostram a preocupação de manter a mensagem intacta, tal como ela foi revelada, "nenhum homem poderia ousar adicionar ou diminuir nada daquela revelação".[6] Da mesma maneira que Moisés usou de cautelas contra os cortes e/ou acréscimos, o apóstolo João também o fez ao escrever a Revelação, cercando-as "das mesmas medidas acauteladoras contra falsificações".[7]
3.o Paralelismo: A Apostasia de Balaão e do Povo de Deus
"Os vossos olhos viram o que o Senhor fez por causa de Baal-Peor; pois a todo homem que seguiu a Baal-Peor o Senhor vosso Deus consumiu do vosso meio" (Dt 4:3).
"Tenho, todavia, contra ti [igreja de Pérgamo] algumas cousas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar as ciladas para os filhos de Israel" (Ap 2:14).
Os dois escritores se utilizam de um evento para alertar os homens sobre os enganos que levam a desobediência e auto-destruição. Moisés relembra os filhos de Israel uma ilustração prática de como "as más associações os tinham levado a desobedecer os claros mandamentos do Senhor",[8] caindo na idolatria e lassidão moral por causa das tentações apresentadas pelas mulheres pagãs. João usou deste caso para salientar o perigo que a igreja de Pérgamo correria. Assim como Balaão, um profeta de Deus, se corrompeu por causa do suborno de Balaque, a igreja cristã também se corrompeu. Foi justamente nesta época que Constantino, agora "convertido" ao cristianismo, implementou, furtiva e silenciosamente os costumes do paganismo.[9] A igreja cristã "em troca da pompa e orgulho pôs de lado a humildade".[10] O paganismo, "conquanto parecesse suplantado, tornou-se vencedor. Seu espírito dominava a Igreja. Suas doutrinas, cerimônias e superstições incorporaram-se à fé e culto dos professos seguidores de Cristo".[11]
É importante salientar que, nestas duas épocas, não foi necessária a utilização da força. Desta forma, pelo engano e pela sedução, israelitas e cristãos foram vencidos.
4.o Paralelismo: Os Remanescentes Fiéis
"Porém vós, que permanecestes fiéis ao Senhor, todos hoje estais vivos". (Dt 4:4).
"Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua
descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e tem o testemunho de Jesus" (Ap 12:17).
Moisés relata que houve os que permaneceram fiéis na apostasia em Baal-Peor. A fidelidade e a obediência aos mandamentos de Deus era a prerrogativa para os israelitas entrarem na Terra Prometida. João uma visão e também vê os remanescentes fiéis, com eles se percebe "o verdadeiro significado dos guardadores dos mandamentos como um grupo, a semente, o qual é especialmente identificado como estando a preservar e restaurar a Igreja de Deus".[12]
5.o Paralelismo: Ordem Divina
"Vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor meu
Deus, para que assim façais" (Dt 4:5,14).
"Achei-me na ilha de Patmos, por causa da Palavra de Deus [...] e ouvi [...]
grande voz [...] dizendo: O que vês escreve em livro e manda as sete igrejas" (Ap 1:9,10,11).
Deus ordena, tanto para Moisés como para João, que propaguem as verdades reveladas a eles. Elas ocorrem no imperativo, demonstrando a responsabilidade daqueles que detêm a mensagem divina.
6.o Paralelismo: A Sabedoria Divina
"Guardai-os [estatutos e juízos], pois, e cumpri-os, por que isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos" (Dt 4:6).
"Aqui está sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora esse número é seiscentos e sessenta e seis" (Ap13:18).
Em ambos os casos a sabedoria é a palavra de Deus, que dá entendimento ao ser humano para não ser seduzido por Satanás. A mensagem de Moisés era que através de dos estatutos de Deus, Israel seria um povo sábio e entendido, não nas artes e nas ciências, "mas no campo da sabedoria espiritual, por possuírem a lei de Yahweh. A sabedoria deles provinha de Deus, porquanto foi dada mediante revelação, e não em resultado de sua erudição e filosofia".[13] João declara que os cristãos que tiverem sabedoria entenderão o que é o número da besta. Segundo S. Neall:
Seis é um número legítimo quando ele conduz ao número sete; representa o homem no alvorecer de sua existência, entrando em celebração com o poder criativo de Deus. A glória da criatura é correta se ela conduzir à glória do Criador. Seiscentos e sessenta e seis, contudo, representa a recusa do homem avançar para o número sete, de dar glória a Deus como Criador e Redentor. Representa a fixação do homem em si mesmo, o homem procurando glória em si mesmo próprio e em suas próprias criações. [...] A marca da besta é, portanto, a rejeição da soberania de Deus - o princípio do Sábado que foi designado para incentivar o homem a buscar a dignidade, não em si mesmo ou na Natureza, mas na comunhão com Deus e na participação do descanso de Deus. É o Sábado que demonstra a soberania de Deus e a dependência do homem.[14]
A sabedoria divina foi, e continua sendo, a única salvaguarda para os israelitas e cristãos, que viviam rodeados pelas diversas filosofias humanas correntes da época.
7.o Paralelismo: Ligação Íntima com Deus
"E que grande nação há que tenha Deus tão chegados a si como o Senhor
nosso Deus, todas as vezes que o invocamos?" (Dt 4:7).
"Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles
serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles" (Ap 21:3).
Em relação aos israelitas, "desde os dias de Adão até agora, jamais povo algum tivera contato direto com o Deus glorioso".[15] A íntima presença de Deus "com o povo de Israel distinguia-o de todos os demais povos da Terra".[16] Em Apocalipse, João relata que haverá uma comunhão inigualável entre Deus e Seus filhos, este momento "apresenta o clímax em direção ao qual foi conduzido todo o livro. Trata-se igualmente de uma das mais emocionantes passagens da literatura",[17] onde o povo de Deus tem o privilégio de entreter franca comunhão com o Pai e o Filho".[18] Os dois textos revelam a vontade que existe por parte de Deus, em manter uma estrita ligação com Seus filhos.
8.o Paralelismo: Justos Juízos
"E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos[...]?" (Dt
4:8).
"Ouvi do altar que se dizia: certamente ó Senhor Deus Todo-Poderoso,
verdadeiro e justos são os Teus juízos" (Ap 16:7; 19:1,2).
A pergunta de Moisés demonstra que a grandeza de Israel se baseava "sobre a possessão da lei".[19] O povo de Israel apresentava para todos os outros povos que os estatutos divinos eram justos. João na visão, ouviu do altar que, até a consumação dos séculos e durante a eternidade, ficará provado que os estatutos e juízos de Deus são verdadeiros.
9.o Paralelismo: Revelação Transmitida
"Guarda a ti mesmo, e guarda bem a tua alma, que não te esqueças daquelas cousas que teus olhos tem visto... e os fará saber a teus filhos a aos filhos dos teus filhos" (Dt 4:9).
"Eu, João, sou quem ouviu e viu estas cousas... [o anjo] me disse: Não seles as profecias deste livro" (Ap 22:8-10).
Havia uma preocupação por parte de Moisés que todas as revelações dadas a eles não caíssem no esquecimento. O conhecimento estava concentrado na lei, e tinha de ser ensinado para outras gerações.[20]. Da mesma forma João é informado que "o livro de Apocalipse deveria ser mantido aberto e compreensível, especialmente nos últimos dias".[21]
10.o Paralelismo: Visão da Aliança
Não te esqueças do dia em que estivestes perante o Senhor [...]o monte ardia com fogo até o meio dos céus, e havia trevas, e nuvens e escuridão [...] Então o Senhor vos falou do meio do fogo [...] anunciou ele a sua aliança, que vos prescreveu, os dez mandamentos (Dt. 4:10-13).
"Abriu-se então, o santuário de Deus que se acha no céu, e foi vista a arca da aliança no seu santuário, e sobrevieram relâmpagos, ozes, trovões, terremoto e grande saraivada" (Ap 11:19).
Em Deuteronômio há a exortação para o povo se lembrar da manifestação Divina no Monte Sinai, para se dar conta da grandeza e magnitude de Deus. No Apocalipse, Deus estava conduzindo João de volta à cena da aliança", chamando o ser humano não somente de "volta ao Monte Sinai, mas também ao Santuário, ao sacerdócio sumo-sacerdotal de Jesus, aos dez mandamentos e ao Sábado".[22] Deus demonstra neste gesto, a imutabilidade de Seus preceitos.
11.o Paralelismo: Perigos da Idolatria
"Não vos corrompais, e vos façais alguma imagem esculpida na forma de ídolo [...] não sejas seduzido a inclinar-te perante eles" (Dt 4:15-19).
"[A besta que emerge da terra] seduz os que habitam sobre a terra [...] dizendo [...] que façam uma imagem à besta [...e também] fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta" (Ap 13:14,15).
Para os israelitas "Yahweh dera a revelação e iluminação, e a revelação fora
escrita e preservada. Não havia desculpa possível para a desobediência".[23] Nesta época "fazia parte da principal característica da adoração pagã que formas visíveis tinham que ser vistas, antes do culto pudesse ser efetuado".[24] No entanto, a "idolatria moderna acompanha o mesmo método onde alguns fazem dos prazeres o seus deus; outros preferem idolatrar o dinheiro, a fama e vantagens de todas as formas".[25] É justamente neste ponto que a mensagem de Apocalipse toca. É afirmado que:
A besta com chifres de cordeiro haveria de falar "como dragão" e, especificamente, que ela ergueria uma "imagem a besta", àquela que, ferida à espada sobreviveu; atribuir-se-ia ainda a tarefa de "comunicar fôlego à imagem da besta", compelindo todos haitantes da Terra - exceto os genuínos seguidores de Deus - "a adorar" a imagem.[26]
Fica claro que Satanás se utiliza de uma imagem, algo que induza o ser humano a desviar sua atenção da Palavra revelada e esquecer do Deus verdadeiro. Ambos textos, de Deuteronômio e Apocalipse, apresentam o grande conflito como sendo a adoração e a obediência.
12.o Paralelismo: A Fuga da Idolatria
"Mas o Senhor vos tomou, e vos tirou da fornalha de ferro do Egito, para que lhe sejais povo de herança, como hoje se vê" (Dt 4:20).
"Foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para que voasse até ao deserto [...o dragão] foi pelejar com os restantes da sua descendência" (Ap 12:14-17).
Quando estava no Egito, "Israel foi reduzido aos terrores de uma fornalha de fundir ferro, que indica uma extrema opressão".[27] Ao ser libertado do Egito, o povo de Israel "precisava deixar para trás toda idolatria egípcia".[28] Foi no deserto que e no exílio, que os israelitas puderam adorar a Deus da forma correta e em liberdade. De forma semelhante, o Apocalipse revela que a Igreja Verdadeira, simbolizada na mulher, recebeu "asas" para voar para o deserto e escapar da idolatria reinante. A Igreja "vivenciou uma experiência relacionada com o deserto durante 1.260 anos. Enquanto era perseguida, Deus lhe proveu sustento",[29] assim como o fora com os israelitas.
Colocando-se no Lugar de Deus
"Também o Senhor se indignou contra mim por vossa causa, e jurou que eu não passaria o Jordão, e não entraria na boa terra que o Senhor teu Deus te dá por herança, porque eu morrerei neste lugar, não passarei do Jordão" (Dt 4:21,22).
Para se obter um paralelismo entre este trecho e a mensagem profética, é preciso identificar qual foi o pecado de Moisés. Ellen G. White afirma que:
Por seu ato precipitado, Moisés tirou a força da lição que Deus Se propunha ensinar. A rocha sendo um símbolo de Cristo, fora ferida uma vez, assim como Cristo uma vez seria oferecido. A Segunda vez, era necessário apenas falar à rocha, assim como temos apenas de pedir bênçãos em nome de Jesus. Ferindo-se pela segunda vez a rocha, foi destruída a significação desta bela figura de Cristo.[30]
A primeira pedra era uma representação de Cristo na cruz e a Segunda, do ministério sacerdotal de Cristo no Santuário Celeste, na qual se precisa somente falar, isto é entrar em comunhão (Hb 10:19-22). Moisés tinha assumido um poder que apenas pertence a Deus, colocou-se no lugar de Deus como se o poder estivesse com ele, homem possuidor de fragilidade e paixão humana.[31] Da mesma maneira, a Igreja apóstata deitou por terra o ministério sacerdotal de Cristo no Santuário Celeste (Dn 8:11), "ostentando-se como se fosse o próprio Deus" (1Ts 2:14), "mudando os tempos e a lei" (Dn 7:25).
13.o Paralelismo: Fogo Consumidor
"Guardai-vos não vos esqueçais da aliança do Senhor vosso Deus, feita convosco, e vos façais alguma imagem esculpida, semelhança de alguma cousa que o Senhor vosso Deus vos proibiu. Porque o Senhor teu é fogo que consome, e Deus zeloso" (Dt 4:23,24).
"Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta, e eram os adoradores da sua imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo" (Ap 19:20).
As palavras dadas a Israel foram uma ameaça, porque se eles falhassem, não cumprindo os mandamentos de Deus, "envolvendo-se na idolatria que a lei proibia tão clara e vigorosamente, então teria que enfrentar um Deus que é fogo que consome".[32] O resultado dessa desobediência às ordens divinas ocorre de forma análoga no apocalipse, no qual tanto os que seduziram à idolatria como os que foram seduzidos, são consumidos pelo fogo.
14.o Paralelismo: A Nova Terra
[Se, após gerações] vos corromperdes, e fizerdes alguma imagem esculpida, semelhança de alguma coisa [...] perecereis imediatamente da terra, a qual, passado o rio Jordão, ides possuir não prolongareis os vossos dias nela, antes sereis de todo destruídos (Dt 4:25,26).
Bem aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras [no sangue do cordeiro], para que lhes assista o direito à arvore da vida, e entrem na cidade pelas portas. Fora ficam os cães, os impuros, assassinos, os idólatras, e todo aquele que ama e pratica a mentira (Ap 22:14,15).
Moisés deixa bem claro que "os israelitas poderiam ser expulsos, e realmente assim aconteceria, se adotassem as práticas idólatras dos antigos habitantes da Terra de Canaã".[33] Ficariam de fora da Terra Prometida caso não estivessem em conformidade com o requisitos anunciados por Deus. Do mesmo modo a Canaã celestial não será para:
Todos que gostariam ali estar. A nova terra se destinará às pessoas que desejarem estar ali - e o desejarem tão fortemente, a ponto de efetuarem alterações substanciais em sua vida, antes que chegue o momento em que Deus os possa declarar cidadãos dessa nova terra.[34]
15.o Paralelismo: O Chamado Divino
O Senhor vos espalhará entre os povos [...] lá servireis a deuses [...]. De lá buscarás o Senhor teu Deus, e o acharás [...]. Quando estiverdes em angústia e todas essas cousas te sobrevierem nos últimos dias, e te voltares para o Senhor teu Deus, e lhe atenderes a voz, então o Senhor teu Deus não te desamparará" (Dt 4:27-31).
"Ouvi outra voz do céu, dizendo: Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados, e para não participardes dos seus flagelos" (Ap18:4).
Embora Deus permitisse, por causa da idolatria, o cativeiro dos israelitas, Ele não se esqueceu do Seu povo. Pela "Sua voz" chamou de volta os israelitas que estavam espalhados entre todas as outras nações, sendo misericordioso não os destruindo juntamente com os pagãos. Esta mensagem vai de encontro com a revelada no Apocalipse. Deus chama nos últimos dias, os que estão espalhados no meio da confusão religiosa, a alinhar-se com o povo remanescente. Quando:
Os que "não creram na verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade"(2Ts 2:12), "forem abandonados para que recebam a operação do erro e creiam na mentira, a luz da verdade brilhará então sobre todos os corações que se acham abertos para recebê-la, e os filhos do Senhor que permanecem em Babilônia atenderão ao chamado: 'Sai dela povo Meu'.[35]
16.o Paralelismo: Sinais e Maravilhas
Agora, pois, pergunta aos tempos passados...se algum povo ouviu falar a voz de algum deus do meio do fogo [...] ? [...] ou se um deus intentou ir tomar para si um povo do meio de outro povo com provas, com sinais, e com milagres, e com peleja, e com mão poderosa, e com braço estendido, e com grandes espantos, segundo a tudo quanto o Senhor vosso Deus vos fez no Egito ao vossos olhos? A ti te foi mostrado para que soubesse que o Senhor é Deus; nenhum outro há senão Ele (Dt 4:32,35).
Então vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda terra se maravilhou, seguindo a besta; e adoraram o dragão porque deu a sua autoridade à besta; também adoraram à besta, dizendo: quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela? [...a besta que emerge da terra] também opera grandes sinais, de modo que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens. Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta, para que, não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta (Ap 13:3,4,14).
Deus libertou Seu "povo das mãos de um poderoso soberano terrestre, confrontando-o com vários testes e exibindo diante deles sinais e maravilhas, realizando poderosos atos de salvamento perante os seus olhos".[36] Deus pergunta se pode existir alguém com Ele, para realizar tais atos. No livro do Apocalipse se vê a contrafação da manifestação divina perante os israelitas. A besta é curada de tal forma que os habitantes da terra se maravilham e perguntam "quem é semelhante a besta". Satanás procurará tomar um povo para si, para tanto:
Terríveis cenas de caráter sobrenatural logo se manifestarão nos céus, como indício do poder dos demônios, operadores de prodígios. Os espíritos diabólicos sairão aos reis da Terra e ao mundo inteiro, para segurá-lo no engano, e força-los a se unirem em sua última luta contra o governo do Céu.[37]
Tamanha será a operação de sinais e maravilhas, para arrebatar o povo de Deus da verdade, que "se possível, os próprios eleitos" (Mt 24:24) seriam enganados. Somente "os que forem diligentes estudantes das Escrituras, e receberam o amor da verdade, estarão ao abrigo dos poderosos enganos que dominarão o mundo".[38]
17.o Paralelismo: Manifestação do Evangelho e Juízo
"Dos céus fez ouvir a sua voz para te ensinar, e sobre a terra te mostrou o seu grande fogo, e do meio do fogo ouviste as suas palavras" (Dt 4:36).
Vi outro anjo voando pelo meio do céu tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra [...] dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas (Ap 14:6,7).
Moisés recebera do meio dos céus, os dez mandamentos, como sendo a revelação do caráter imutável de Deus. Para Israel "a voz dos céus e a epifania do fogo na Terra eram juntas, as instrutoras sobre o ser e o caminho de Deus, que estimulavam a aceitação da lei como a sua vontade e a sua aliança".[39] De acordo com Claus Westermann "as epifanias referem-se só às aparições de Deus para ajudar, resgatar ou salvar seu povo".[40]
No Apocalipse é utilizada a simbologia do anjo vindo pelo "céu" com "grande voz" trazendo consigo o evangelho eterno,[41] exortando a todos que adorem "aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas", numa alusão ao quarto mandamento, na qual descreve Deus como Criador. O evangelho "eterno" é revelado para dissipar quaisquer dúvidas quanto a vontade de Deus. É apresentado também de maneira solene, declarando que chegou a hora do juízo. Assim como a
epifania do Antigo Testamento referia-se a salvação, a "hora do juízo é uma boa nova
para todos os cristãos que têm sido maltratados, bajulados, zombados, multados, queimados ou oprimidos de qualquer forma devido a sua lealdade a Deus".[42]
18.o Paralelismo: Um Deus que Salva
Porquanto amou teus pais, e escolheu a sua descendência [...] para lançar fora de ti nações maiores e mais poderosas do que tu, para te introduzir na sua terra e te dar por herança, como hoje se vê . Por isso saberás, e refletirás no teu coração que só o Senhor é Deus em cima no céu, e em baixo na terra;
nenhum outro há. (Dt 4:37-39).
Vi também um anjo forte, que proclamava em grande voz: Quem é digno de abrir o livro e de lhe desatar os selos? Ora nem no céu, nem sobre a terra, nem debaixo da terra, ninguém podia abrir o livro [...] e eu chorava muito [...] então vi [...] um Cordeiro como tinha sido morto [...] com o seu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação, e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra (Ap 5:2-10).
Deus havia escolhido "Israel como seu povo simplesmente porque o amava e havia feito uma promessa a seus pais".[43] O povo de Israel "é amado para que se torne o reino sacerdotal de Javé na história do mundo".[44] Nem debaixo do céu ou da terra havia um Deus com tamanho amor, a ponto de salvar os israelitas de outras nações mais poderosas e ainda dar-lhes a terra como herança.
Este amor é enunciado no livro do Apocalipse. João chora por ninguém poder abrir o livro, ele sabe que de alguma forma isto está relacionado com a sua salvação. Nem no céu nem na terra alguém era digno de abrir o livro. Até que Jesus, o Cordeiro de Deus, movido pelo amor, compra, pelo Seu próprio sangue, os que procedem de todas as nações, colocando-os como sacerdotes em Seu reino.
19.o Paralelismo: Guardai, Pois.
"Guarda, pois, os seus estatutos e os seus mandamentos, que te ordeno hoje, para que te vá bem a ti, e para que prolongues os dias na terra que o Senhor teu Deus te dá para todo o sempre" (Dt 4:40).
"Eis que venho sem demora. Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro" (Ap 22:7).
Moisés sabia que para Israel executar sua tarefa santa e elevada de abençoar o mundo, era necessário guardar os estatutos divinos, permanecer leal à sua vocação para a separação, resistindo às incessantes pressões de todos os lados e nunca ceder ao sincretismo moral e religioso que o rodeava.[45] Desta maneira estaria assegurada a sua permanência na terra que Deus lhes daria "para todo o sempre".
Semelhante no Apocalipse, Jesus profere uma benção para aqueles que guardassem as palavras da profecia, anunciando que vinha sem demora. Era a preocupação de João também, que as palavras da Revelação fossem compreendidas, pois "assuntos de vasta importância lhe foram desvendados, especialmente para a última igreja, a fim de que os que volvessem do erro para a verdade pudessem ser
instruídos em relação aos perigos e conflitos que diante deles estariam".[46] Pela iluminação de Sua palavra, Deus providenciou meios para que Seus filhos possam fugir dos engodos do inimigo e estar, em breve, desfrutando das bênçãos da Nova Terra.
RESUMO E CONCLUSÃO
O sermão proferido por Moisés às portas de Canaã, ecoa até os dias de hoje, onde a Igreja se encontra no limiar da Canaã celestial. O Antigo Testamento prova ser uma proteção contra a filosofia humana e o secularismo, prevenindo os cristãos de deitarem por terra as suas origens e serem apenas um grupo esotérico. Demonstrou-se também que:
A obra de Deus na Terra apresenta, século após século, uma surpreendente semelhança, em todas as grandes reformas ou movimentos religiosos. Os princípios envolvidos no trato de Deus com os homens são sempre os mesmos. Os movimentos importantes do presente têm seu paralelo nos do passado, e a experiência da igreja nos séculos antigos encerra lições de grande valor para o nosso tempo.[47]
Enfim, espera-se agora, a consumação final na qual toda a Escritura se dirige: o restabelecimento do reino de Deus juntamente com os Seus filhos resgatados.
[1] Ralph L. Smith relata que "à medida que a igreja se tornava helenizada, as Escrituras hebraicas apresentavam alguns problemas de compreensão e aplicação". Teologia do Antigo Testamento (São Paulo: Editora Vida Nova, 2001), 406. Por volta de 145 d.C um gentio chamado Márcion rejeitou o Antigo Testamento como Escritura cristã, escolhendo para sua Bíblia apenas o evangelho de Lucas e dez cartas de Paulo. Adolf Harnack propôs que "o Antigo Testamento fosse deposto da sua posição canônica e colocado no topo da lista dos apócrifos". Ibid.
[2] John D. W. Watts, Comentário bíblico Broadman (Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira, 1990), 222. Watts traz vários exemplos dessa influência. Ele mostra que Jesus dependia grandemente de Deuteronômio quando foi tentado (6:13-16; 8:3; Mt 4:4,7,10; Lc 4:8,12). O grande mandamento de amar "o Senhor teu Deus com todo o teu coração" (6:5) é a resposta à pergunta sobre qual é o grande mandamento (Mt 22:37,38; Mc 12:29-33; Lc 10:27). Pode ser que a idéia-chave do Sermão da Montanha, "sede vós, pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial" (Mt 5:48), se derive, na realidade, de Deuteronômio 18:13. Segundo Watts a influência de Deuteronômio sobre Paulo "é forte" e que, tanto Hebreus como Atos, empregam citações do livro. Ibid.
[3] C. Mervyn Maxwell, Uma nova era segundo as profecias do Apocalipse (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1998), 65. R. H. Charles apontou "para o fato de que, ao fazer uso dos textos do Antigo Testamento, João não utiliza a Septuaginta - a versão grega normalmente usada em seus dias - mas prefere basear-se diretamente nos originais hebraicos ou em traduções populares do aramaico". Ibid.
[4] Ellen G. White, Patriarcas e profetas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996), 463.
[5] Maxwell, 65.
[6] Russell N. Champlin, O Antigo Testamento interpretado (São Paulo: Editora Candeia, 2000), 2:770. J. A. Thompson afirma que "de acordo com o padrão dos tratados de suserania do Oriente Próximo e dos antigos códigos legais, a aliança não deveria ser alterada de modo algum". Deuteronômio introdução e comentário (São Paulo: Editora Vida Nova, 1985), 100.
[7] Eduard Schick, O Apocalipse (Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1980), 285.
[8] Champlin 2:770
[9] White, O grande conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996), 49.
[10] Ibid.
[11] Ibid., 50.
[12] Maxwell, 425.
[13] Champlin, 2:770.
[14] Maxwell, 432-433.
[15] Antônio Neves de Mesquita, Estudo nos livros de Números e Deuteronômio (Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1979), 115.
[16] Champlin, 2:770.
4 Maxwell, 526.
[18] White, O grande conflito, 676.
[19] Champlin, 2:770.
[20] Ibid. Thompson afirma que "tais quebras da aliança eram uma ofensa ao Senhor e seriam merecedoras de Seu juízo. Os grandes eventos de Horebe deviam ser guardados cuidadosamente para não serem esquecidos. Além do mais, a transmissão fiel da história aos filhos era obrigatória para Israel". Thompson, 101.
[21] Maxwell, 548.
[22] Ibid., 394.
[23] Champlin, 2:772.
[24] Ibid.
[25] Ibid.
[26] Maxwell, 353.
[27] Champlin, 2:773. Por sua vez, Maxwell salienta que "hoje Cristo está ajudando, não apenas israelitas, mas indivíduos de 'toda tribo, língua, povo e nação', a escaparem de seus 'Egitos' particulares, de escravidão do pecado e do temor da morte. Maxwell, 210.
[28] Champlin, 2:773. Maxwell relembra que "no Antigo Testamento , o povo de Israel é muitas vezes identificado com uma mulher".325.
[29] Maxwell, 496.
[30] White, Patriarcas e profetas, 418.
[31] Ibid.
[32] Champlin, 2:774. De acordo com Thompson, "o termo zeloso (qannã) não tem a conotação de ciumento ou invejoso, indicando antes um interesse profundo e ativo na justiça surgido da santidade de Javé". Thompson, 104.
[33] Champlin, 2:774.
[34] Maxwell, 531.
[35] White, O grande conflito, 390.
[36] Thompson, 106.
[37] White, O grande conflito, 623.
[38] Ibid., 625.
[39] Watts, 244.
[40] Smith, 103.
[41] Ellen G. White afirma que "quando Deus envia aos advertências tão importantes que são representadas como proclamadas por santos anjos a voar pelo meio do céu, ele requer que toda pessoa dotada de faculdade de raciocínio atenda à mensagem. O grande conflito, 594.
[42] Maxwell, 361.
[43] Smith, 124.
[44] Samuel Terrien, citado em Smith, 124.
[45] Merril F. Unger, Arqueologia do Velho Testamento (São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1989), 81.
[46] White, O grande conflito, 342.
[47] Ibid., 343.
10 de dezembro de 2008
Paralelismo entre Deuterônimo 4 e Apocalipse
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