Alberto R. Timm
O grau de comprometimento de nossas futuras gerações para com a mensagem adventista está sendo determinado em grande parte pela maneira como estamos preparando os interessados para o batismo. Assim como muitas influências pré-natais deixam resquícíos na criança depois do nascimento, o preparo pré-batismal afeta decisivamente a identidade espiritual dos novos membros e, consequentemente, a própria identidade da igreja.
Se “a aquisição de membros que não foram renovados no coração e reformados na vida” é realmente “uma fonte de fraqueza para a igreja”2 então “a hora de instruir os conversos completamente, é antes do batismo”, quando eles ainda “estão ansiosos por aprender, e o fogo do primeiro amor arde brilhantemente no altar de seu coração”.3 Mas o que estaria envolvido nesse preparo cabal para o batismo?
Nem sempre é possível generalizar o conteúdo das séries de estudos bíblicos pré-batismais a serem ministradas, pois os interessados provêm de diferentes contextos profíssionais, socioculturais e religiosos.
Mas, a despeito dessas variantes, existem três grandes áreas da religião com as quais os interessados devem estar devidamente familiarizados antes do batismo.
Conversão — A primeira dessas áreas é o conhecimento teórico-experiencial do plano da salvação em Cristo Jesus, que leva o interessado a uma genuína experiência de conversão pessoal. Este aspecto é fundamental a toda série de estudos bíblicos, levando-se em conta a primazia que ele exerce sobre os demais temas. Cristo mesmo declarou que a vida eterna consiste no conhecimento pessoal da Divindade (João 17:3; cf. Osé, 6:3). Por esta razão, Ellen White insiste em que “o primeiro e mais importante aspecto” em toda série de estudos bíblicos “é enternecer e abrandar a alma pela apresentação de nosso Senhor Jesus Cristo como o Salvador que perdoa os pecados”.
O mais cedo possível devem os interessados ser familiarizados com o verdadeiro conceito bíblico de salvação; pois, no cristianismo em geral (e mesmo entre os evangélicos), prolifera uma falsa dicotomia entre a salvação no Novo Testamento (por graça) e no Antigo Testamento (por obras). Devemos, portanto, deixar bem claro que os pecadores, tanto do Antigo como do Novo Testamento, sempre foram salvos pela graça (Efés. 4:8), justificados pela fé (Rom. 5:1) e julgados pelas obras (Apoc. 20:13); pois é impossível que em algum tempo pecadores pudessem ser salvos por seus próprios méritos.
O plano da salvação deve ser apresentado de forma contextualizada, fluindo através do progressivo tema do santuário, que: 1) começa com os altares patriarcais; 2) prossegue com o tabernáculo mosaico e o templo de Jerusalém; e 3) culmina com a morte de Cristo na cruz, com o Seu ministério sacerdotal no santuário celestial e com a Sua segunda vinda em glória e majestade para a salvação final dos Seus filhos.
Após compreenderem essa visão abarcante do plano da salvação, os interessados devem ser conscientizados de que tudo isso só se tomará eficaz para eles se pessoal-mente (cf. LI Cor. 5:18-20) se arrependerem dos seus pecados (Atos 2:38) e aceitarem a morte vicária de Cristo (João 3:16) e Seu ministério sacerdotal (Heb. 4:14-16). A pessoa que ministra os estudos bíblicos poderá ajudar grandemente o interessado a fazer sua entrega pessoal a Cristo.
Mas neste ponto surge uma decisiva indagação: Seriam a compreensão do plano da salvação e a entrega pessoal a Cristo as únicas condições realmente necessárias para o batismo?
Conhecimento — Certas experiências do Novo Testamento (ver Atos 2:1-41; 8:26-38; 9:1-18; 10:1-48; 16:13-15, 19-33;
18:8; 19:1-5) parecem sugerir, à primeira vista, que a única condição para uma pessoa ser batizada é crer em Cristo. Essa poderia ser a realidade, se vivêssemos nos dias dos apóstolos e nossa missão fosse pregar aos judeus da época ou às pessoas já familiarizadas de alguma forma com os ensinos do judaísmo. Nesse caso, nossa missão básica se restringiria a levar os interessados a aceitar a Jesus de Nazaré como o prometido Messias.
Não devemos nos esquecer, porém, de que os tempos mudaram significativamente, e que no mosaico religioso (e mesmo cristão) de nossos dias os interessados têm “muito que aprender e muito que desaprender, e isso leva tempo”. Se cremos que o cristianismo pós-apostólico passou por um profundo processo de apostasia que se estende até nossos dias (cf. Dan. 8:9-12; 11 Tess. 2:1-12), então precisamos também reverter esse processo a fim de retomarmos à fé pura do cristianismo primitivo.
Deveríamos mostrar: 1) como o poder da ponta pequena deitou por terra o sistema de verdades conectadas com o santuário celestial (Dan. 8:9-12; 7:25); 2) como esse sistema seria restaurado no final das 2.300 tardes e manhãs (Dan. 8:13 e 14), através da proclamação das três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12; e 3) como o Movimento Adventista do Sétimo Dia surgiu nessa época para restaurar as verdades do ministério de Cristo no santuário celestial, da perpetuidade da Lei e do Sábado, da segunda vinda pessoal e visível de Cristo, da imortalidade condicional da alma, da manifestação do dom profético, etc.6
Os diferentes componentes doutrinários de nossa mensagem devem ser sempre apresentados cristocentricamente, pois, de acordo com Ellen White, “toda verdadeira doutrina tem a Cristo como centro, e todo preceito recebe força de Suas palavras”.7 E mais, “de todos os professos cristãos, devem os adventistas do sétimo dia ser os primeiros a exaltar a Cristo perante o mundo”.8 Devemos, portanto, proclamar com entusiasmo ao mundo nossa visão ampla do que Cristo fez (na cruz), está fazendo (no santuário celestial) e ainda fará (em Sua Segunda Vinda) por nossa salvação.
Estilo de vida — Há ainda aqueles que negam a influência social da religião, alegando, dicotômica e unilateralmente, que o que importa é apenas o interior da pessoa e não o seu exterior. Essa teoria, no entanto, é claramente rejeitada por Cristo ao afirmar que os cristãos são tanto o “sal da terra” (Mat. 5:13) como a “luz do mundo” (Mat. 5:14-16), e que a verdadeira religião é reconhecida “pelos seus frutos” (Mat. 7:15-23; João 15:1-5).
Como adventistas do sétimo dia, cremos que o ser humano é um todo indivisível e que a religião interior se reflete exteriormente. Isto significa que devemos ensinar aos interessados também os princípios bíblicos do estilo de vida adventista. Eles devem compreender que um povo que professa estar vivendo‘, 9“hoje no grande dia da expiação preparando-se para a breve volta de Cristo, deve viver em conformidade com a fé que professa. Tal povo jamais indagará: “qual o mínimo que precisamos fazer para alcançar a salvação?”, mas sim: “qual a maneira mais adequada de servirmos Cristo?”
A apresentação dos princípios do estilo de vida adventista deve abranger o hábitos devocionais, a reforma de saúde, a mordomia financeira, o vestuário e os adornos pessoais, bem como os vá rios aspectos do comportamento social do cristão. Se “todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como missionário”0 então devemos também ensinar os interessados a começarem a testemunhar de sua fé ainda antes do batismo. E deveras importante que explique mos a eles que nossa igreja não é um mosteiro de santos que já atingiram pefeição, e sim um “hospital espiritual”, onde todos precisam ser ajudados (cf. Filip. 3:12).
R. A. Anderson comenta que “aceitar a luz em pontos de fé tais como a reforma de saúde ou as ofertas sistemáticas, ou o dom divino de profecia, é fácil” às pessoas que se preparam para o batismo. Mas, “se esses e outros itens vêm a ser descobertos depois [do batismo], não é de se admirar que a sua confiança comece a diminuir e o fogo do primeiro amor a se apagar. Sem dúvida, todos conhecemos alguns que perderam o caminho e abandonaram a mensagem simplesmente porque, na época em que foram trazidos à igreja, algumas dessas coisas não lhes foram esclarecidas”.
Conclusão — Crer no Senhor Jesus Cristo não significa apenas professar o Seu nome, mas aceitar também a Sua vontade para a nossa vida (ver Mat. 7:21), numa profunda experiência espiritual que se reflete exteriormente. Toda a genuína aceitação de Cristo como Salvador pessoal leva à espontânea indagação: “Senhor, que queres que eu faça?”
Se prepararmos nossos conversos apenas em uma das áreas acima mencionadas, estaremos não apenas sendo parciais para com os interessados mas também desvirtuando a natureza todo-abarcante de nossa mensagem. Se apresentarmos apenas um Cristo sem doutrinas, estaremos promovendo o pluralismo, uma espécie de ecumenismo interno que destrói a identidade de qualquer denominação. Se, por outro lado, nossos estudos propagarem doutrinas sem Cristo, estaremos difundindo o legalismo, que rouba da mensagem o seu poder santificador. Se, por último, apregoarmos um estilo de vida que não derive de uma experiência espiritual interior, estaremos estimulando o formalismo, que caracterizava o farisaísmo dos dias de Jesus (cf. Mat. 23).
Um preparo adequado para o batismo, que: 1) conduza à experiência da conversão; 2) forneça o conhecimento doutrinário básico; e 3) promova a vivência do nosso estilo de vida distintivo, não representa necessariamente um acréscimo no tempo de preparo e sim uma mudança de metodologia que restaure nossa verdadeira identidade profético-adventista. Se quisermos que nossa Igreja preserve sua identidade denominacional, precisamos investir num adequado preparo das novas gerações que ingressarem em nossas comunidades.
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