Por Luiz Gustavo S. Assis
“Abraão não existiu! A narrativa bíblica sobre sua vida é um conto folclórico criado por judeus na época do exílio na Babilônia!” Se você achou esta declaração absurda, matérias com esse tipo de conteúdo estão sendo publicadas em diversas revistas no Brasil e ao redor do mundo.
Mas será que uma das figuras mais importantes das três grandes religiões: cristianismo, islamismo e judaísmo seria um simples mito?
Existem evidências arqueológicas que provam o contrário dessas opiniões? Neste artigo, veremos como três importantes descobertas arqueológicas ajudam a fortalecer a realidade histórica de Abraão.
A cidade de Ur
O livro de Gênesis nos diz que Abraão e sua família moravam em Ur, uma cidade ao sul da Mesopotâmia. Existia apenas um problema a respeito de tal afirmação: a cidade não havia sido encontrada por historiadores ou por arqueólogos. Essa falta de evidência era motivo para alguns críticos rejeitarem a história de Abraão. Quando foi levantada a hipótese de que a atual Tell al Muqqayar era a antiga cidade de Ur, várias escavações foram ali feitas. Porém, a mais importante foi realizada por Sir Leonard Woolley em meados de 1922.
As escavações trouxeram à luz vários objetos utilizados nos cultos à Nannar, o deus da lua, bem como a torre templo dedicado à sua adoração. Essa torre templo era chamada de ziggurat. Essa construção tinha 25 metros de altura e a argamassa utilizada para os tijolos foi o betume. Interessante, a Bíblia menciona que na construção da torre de Babel, os construtores usaram betume como argamassa (Gn. 11:3). Provavelmente a torre de Babel também era um zigurat
Na antiguidade, Ur era um grande centro comercial. Segundo um estudo das ruínas da cidade, a população na época em que a Bíblia menciona Abraão como residente era de aproximadamente de 24 mil habitantes. (1) Atualmente isso pode parecer uma população pequena, mas para os padrões da época era como se Ur fosse do tamanho de São Paulo ou de Nova York. Isso nos ajuda a ilustrar a fé de Abraão em sair de Ur, mesmo sabendo que estava deixando para trás uma das maiores cidades de sua época (Gn. 12:1; Hb. 11:8).
Graças ao trabalho de vários homens, hoje podemos dizer que a arqueologia encontrou o antigo lar de Abraão e sua família.
As leis do período patriarcal
Toda sociedade é regida por leis. Tais leis podem abarcar desde pequenas ocorrências até situações complexas. Isso também acontecia com os povos antigos. Por exemplo, os arqueólogos ao escavarem as antigas cidades de Mari e Nuzi, também localizadas na Mesopotâmia, encontraram alguns códigos de leis que orientavam a comunidade local. É claro que estas leis com o tempo foram aprimoradas e em alguns casos até extinguidas.
Na narrativa patriarcal existem várias destas leis praticadas por personagens bíblicos, por exemplo: Abraão adotou Eliézer porque não possuía filhos até o momento. Esta prática na verdade era uma lei que existia na época em que esta história ocorreu. Era comum um casal sem filhos adotar um dos seus servos para ser o herdeiro. Nas leis da cidade de Nuzi, vários destes casos são ali mencionados.
Existe um relato na Bíblia em que Sara, por não poder ter filhos, oferece à Abraão sua serva egípcia Agar, para assim se cumprir a promessa de Deus feita para Abraão, de que ele seria o pai de um grande nação. (Gn. 16:3). Na realidade, essa era uma lei que existia entre os povos antigos e graças a arqueologia temos um documento que prova isso.
Em 1902, foi encontrado em Susã, onde hoje seria o Irã, um código de leis feito por um antigo rei babilônico chamado Hamurábi. Na época desse rei, Ur fazia parte da província de Babilônia. Este código escrito em forma de uma estela de basalto tem aproximadamente 2 metros de altura e é composto de 250 parágrafos escritos em cuneiforme acadiano. Na Lei 145 lê-se a seguinte inscrição: “Se um cidadão tomou uma esposa, e ela não o tem presenteado com filhos, ... esse cidadão pode tomar uma serva e levá-la para sua casa.” (2)
O código de Hamurábi foi escrito por volta de 1750 a.C. Mencionamos no começo deste artigo que muitos têm afirmado que a história de Abraão foi inventada por judeus na época que estavam cativos em Babilônia. Ora, o cativeiro ocorreu entre 605 a 539 a.C. Se essa afirmação fosse verdadeira, como um escritor vivendo mais de 1300 anos depois de a Bíblia afirmar que a história ocorreu saberia tantos detalhes acerca da sociedade vigente?
O nome Abraão
Gênesis também nos diz que Deus mudou o nome Abrão para Abraão. O primeiro nome em acádio, uma das línguas semíticas, significa “meu pai amado”, já em hebraico “meu pai exaltado”. O segundo nome tem mais a ver com a promessa de Deus sobre sua posteridade, que é “pai de numerosa nação”.
Infelizmente a arqueologia ainda não encontrou nenhuma inscrição que aparece um desses dois nomes nas ruínas de Ur. Mas como foi dito anteriormente, isso não é motivo para negarmos a história bíblica. A falta de evidência do nome de Abraão em Ur, não significa que ele não existiu.
Mas não estamos sem qualquer evidência sobre esse nome. Em meados de 1974 e 75, foi encontrado na antiga cidade siríaca de Ebla, atual Tell Mardikh, a antiga biblioteca da cidade com aproximadamente 15 mil tabletes escritos em cuneiforme eblaita, o tipo de escrita usada na cidade. Sabemos hoje, através de estudos nas ruínas da antiga cidade de Ebla, que a destruição que sepultou os tabletes ocorreu entre 2300 e 2280 a.C.
Quando eles foram traduzidos alguns nomes ali mencionados chamaram a atenção dos especialistas. Um dos nomes era A-ba-am-ra-am, muito semelhante com o nome hebreu ’Avraham.
É claro que este nome não é uma referência ao Abraão bíblico, mas essa evidência nos ajuda a entender que esse nome era comum 1700 antes do cativeiro, o que nos leva ao período patriarcal. Se considerarmos a cronologia interna da Bíblia, a data 2000 a.C. é a que melhor se encaixa para a existência de Abraão.
Conclusão
O ceticismo bíblico tem aumentando assustadoramente nos último anos. Dúvidas sobre eventos e personagens bíblicos estão sendo publicadas em diversos periódicos em todo o mundo. Nesse artigo vimos que esse é o caso da história e vida de Abraão.
Mas negar a existência de Abraão nos afeta grandemente. Na genealogia de Cristo, Abraão é quem a inicia e Cristo também é chamado de “filho de Abraão” (Mt. 1). E mais, é em Cristo que se cumpre a promessa divina feita ao patriarca: “em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gn. 12:3)
Por fim, cada vez é mais difícil não crer na Bíblia e nos relatos que ela contém.
Referências:
1 – S. Julio Schwantes, Uma Breve História do Antigo Próximo Oriente, IAE – 1988, pág. 18.
2 – Ancient Near Eastern Texts, ed. J. B. Pritchard (Princeton: 1969), pág. 172.
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