10 de dezembro de 2008

É bíblica a doutrina da segunda oportunidade?

Ozeas C. Moura

“A doutrina da "Segunda oportunidade" é mais uma das sutis artimanhas do inimigo”

“Segunda Oportunidade” se­ria uma segunda chance de salvação após a morte ou após a volta de Cristo. Esta crença tem seus defensores em vários seg­mentos religiosos, variando o período em que ocorrerá tal opor­tunidade.

As Testemunhas de Jeová crêem que ela ocorrerá num período de mil anos, a começar com uma ressurrei­ção geral de “todos os que foram dig­nos de ressuscitar para o juízo”. (1) Esse juízo não seria para condenação, mas uma nova oportunidade de se aceitar a salvação. (2)

Os defensores do Arrebatamento Secreto ensinam que após esse even­to, haverá um período de sete anos no qual os que não foram arrebatados te­rão nova oportunidade de aceitar a Cristo. Outros ainda pregam que após Cristo estabelecer Seu trono na velha Jerusalém, “todas as nações da Terra se converterão, pois estarão fora do alcance de Satanás”. (3)

O Catolicismo crê no purgatório. Um lugar, segundo eles, “de purifica­ção das almas dos justos antes de admitidos na bem-aventurança”. (4) Nesse lugar, os bons, que por algum motivo não foram logo ao Paraíso após a morte, terão sua segunda oportunida­de de salvação.

Há também a doutrina espírita da reencarnação, doutrina que advoga sucessivas mortes e reencarnações, sendo cada uma delas oportunidade para se corrigir o que não foi corrigido nas outras vidas ou oportunidades anteriores.

As Escrituras Sagradas são claras sobre quando é o tempo da oportuni­dade. “. . .hoje se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações...” (Heb. 3:7 e 8). “. . .Eu te ouvi no tem­po da oportunidade e te socorri no dia da salvação: eis agora o tempo sobre-modo oportuno, eis agora o dia da sal­vação” (II Cor. 6:2). (Grifos acrescen­tados.) O “tempo da oportunidade” é identificado com “hoje’’ e ‘‘agora, e não numa segunda chance após a mor­te, volta de Jesus, arrebatamento se­creto, purgatório ou reencarnação. Com a morte encerra-se o tempo de oportunidade para o incrédulo, pois “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, e depois disto o juízo [krí­sis]” (Heb. 9:27). O termo grego krí­sis traz em si as idéias de condenação, juízo, sentença, acusação, justiça (5); e não de um tempo de prova (doquimê) para se conceder uma outra oportuni­dade para a salvação. Paulo, com esse texto (Heb. 9:27), fere de morte a dou­trina da reencarnação, pois antes do juízo os homens deverão morrer ape­nas uma vez (6), e faz o mesmo com a doutrina do purgatório, pois após a morte, a próxima coisa a ocorrer é o juízo, “vindo depois disto [da morte] o juízo” (Heb. 9:27), e não um estágio para purgar algum pecado entre a morte e a entrada na bem-aventurança.



A parábola do rico e Lázaro:



Em Lucas 16:19-31, aparece uma das muitas parábolas contadas por Je­sus. Sabemos que é uma parábola, en­tre outras razões, pela maneira como começa: “Havia certo homem rico. que...” (verso 19). Essa é uma manei­ra típica de se iniciar uma parábola. Por exemplo, “Qual dentre vós, é o homem que...” — parábola da ovelha perdida (Lucas 15:4); “Ou qual é a mulher que...” — parábola da dracma perdida (Lucas 15:8); “Certo ho­mem...” — parábola do Filho pródigo (Lucas 15:11); “Havia um homem rico que...” — parábola do administra­dor infiel (Lucas 16:1), etc.

Por que Jesus contou essa parábo­la? Ela “não é um comentário a res­peito da vida social contemporânea, nem pretende ela transmitir ensino no que tange à vida além-túmulo. Na realidade, ela não é uma parábola so­bre o rico e Lázaro, mas a respeito dos cinco irmãos do rico”. (7) (Grifos acrescentados.) Se eles não ouvissem Moisés e os profetas (a Bíblia de en­tão), estariam perdidos. Após a morte haveria “um grande abismo” (Lucas 16:26) entre eles e os salvos. Quem estivesse de um lado, não poderia passar para o outro (16:26).

Dentre as muitas lições contidas nessa parábola, destacam-se duas: 1) Deus tem revelado o plano da salva­ção em “Moisés e os profetas” (Bí­blia); 2) o tempo da oportunidade é antes da morte, pois depois desta esta­rá posto o “grande abismo” que sepa­ra para sempre o perdido do salvo.

A doutrina da “Segunda Oportuni­dade” é mais uma das sutis artima­nhas do inimigo de Deus, o qual dese­ja levar a humanidade a acreditar que não é necessário levar muito a sério as coisas eternas agora, pois haveria uma nova chance no futuro. Deus nos ajude a aproveitar o “tempo da opor­tunidade” que é hoje, e “o dia da sal­vação” que é agora. E se hoje ouvir­mos a Sua voz, não endureçamos os nossos corações (Heb. 3:15).





Referências:



1. Pedro Apolinário, As Testemunhas de Jeová e sua Interpretação da Bíblia, 4’ ed., São Paulo. IAE, 1986, pág. 246.

2. Loc. Cit.

3. Idem, pág. 248.

4. Francisco da Silveira Bueno, Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. 1º ed., Rio de Janeiro, PENAME, 976, pág. 925.

5. WiIliam Carcy Taylor, Dicionário do Novo Testamento Grego. 5’ cd., Rio de Janeiro, JUERP, 1978, pág. 123.

6. Francis D. Nichol, editor, Comentário de Hebreus, São Paulo, IAE, 1985. p5g. 172.

7. George Eldon Ladd. Teologia do Novo Testamento, 1º ed., Rio de Janeiro, JUERP, 1985, pág. 182.

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