Dênis K. Fehlauer
Normalmente, quando lemos ou ouvimos uma história bíblica, temos a tendência de passar por alto os detalhes. E um ato inconsciente, natural, mas muitas vezes prejudicial. Contudo, descobrir de maneira natural, no texto bíblico, uma novidade" que sempre esteve ali, produz uma sensação agradável.
Assim, gostaria de recapitular a história de Daniel. Não para dizer que ele era um homem de oração, corajoso, honesto ou cheio de fé. A leitura desse trecho da Bíblia desperta curiosidade sobre outro aspecto da personalidade do profeta.
Daniel é um dos personagens para quem, tanto a Bíblia como o Espírito de Profecia, só há elogios. Um bom exemplo disso encontramos no capítulo 9. Ali, Daniel recebe dos livros proféticos o que parecia ser más notícias. Então ora, confessa pecados e pede misericórdia a Deus. Ele havia descoberto que as dificuldades que seu povo enfrentava em terra estrangeira, durariam ainda setenta anos. Ficou confuso. Enquanto orava, o anjo Gabriel veio voando, tocou nele e disse (verso 23): "Logo que você começou a orar, Deus atendeu o seu pedido. Deus o ama muito e por isso me mandou explicar a visão a você." (BLH.)
A princípio pode não parecer elogio o fato de Deus mandar dizer que ama alguém. Ora, Deus ama todo mundo! Mas a versão da Bíblia de Jerusalém dá uma idéia interessante sobre o assunto: "Desde o começo da tua súplica uma palavra foi pronunciada e eu vim para comunicá-la a ti, porque és o homem das predileções". Os tradutores sugerem que Daniel era um dos prediletos de Deus. Muitos de nós gostaríamos de ouvir algo nesse sentido.
Voltando ao capítulo 6, vemos que mais alguém, além de Deus, gostava de Daniel. Com certeza, não eram os políticos da época. A inveja deles é compreensível. Além de ser o funcionário mais competente, Daniel era um estrangeiro. Alguém de fora iria governar sobre os da casa (verso 13).
A admiração dirigida ao profeta vinha do rei. Após compreender o plano arquitetado contra Daniel, o monarca deixa transparecer a amizade que sentia pelo velho conselheiro (verso 14). "Penalizado pela parte que havia desempenhado no mal que se praticara, o rei ‘até o pôr-do-sol’ trabalhou para salvar seu amigo." — Profetas e Reis, pág. 543, grifo acrescentado.
Por não conseguir salvar seu amigo, o rei passou uma noite nada agradável. Daquele tipo que a gente não dorme nem com chá de erva cidreira. A ansiedade fez com que o rei fosse apressadamente à cova
dos leões ao primeiro sinal do dia. E no verso 20 lemos: "Chegando-se ele à cova, chamou por Daniel com voz triste..." Dario não estava triste apenas por perder um bom funcionário. Não queria perder alguém por quem ele sentia real amizade. Daniel não era um daqueles aduladores do chefe. Ele era querido pelas pessoas que não tinham inveja dele. Daniel sabia lidar com gente.
"Através do reinado de sucessivos monarcas, da queda da nação e o estabelecimento de outro império mundial, foram de tal natureza sua sabedoria e capacidade de estadista, tão perfeitos seu tato, cortesia, genuína bondade de coração e sua fidelidade ao princípio, que mesmo seus inimigos foram forçados a confessar que não podiam achar ‘ocasião ou culpa alguma; porque ele era fiel’." — Profetas e Reis, pág. 546.
Tato, cortesia e bondade de coração são qualidades de quem sabe lidar com gente. Nós precisamos aprender a lidar com pessoas. "Muita gente faz cursos de informática, inglês, comércio exterior e tantos outros, mas poucos fazem cursos para entender o mais importante: gente. E o mundo é formado por gente. Fazer as pessoas trabalharem é fácil, qualquer feitor de escravos sabe como fazê-lo. Porém, ajudar a desabrochar seres humanos é trabalho para os jardineiros de Deus"
(A Revolução dos Campeões, de Roberto Shinyashiki, págs. 141 e 142).
Muitos de nós ocupamos posições de liderança em algum lugar e de alguma maneira. Na igreja, no trabalho, em casa, etc. A pergunta é: Sabemos lidar com as pessoas? Seja qual for a nossa esfera de ação, temos sido jardineiros de Deus? Temos ajudado as pessoas a desabrocharem como seres humanos?
Daniel foi elogiado por Deus não apenas por ser administrador excelente, mas por ter tato, cortesia e bondade de coração. Por ser um jardineiro de Deus.
Quem sabe se nós um dia — naquele dia, ao nos encontrarmos entre os salvos não vamos ouvir de Deus: "Meu filho, você soube como tratar as pessoas, foi amado por elas e esse é o significado do evangelho. Eu também o amo muito; por isso, você está aqui."
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