S. J. Schwantes
Muitos que aguardam, com impaciência, o tempo da perseguição a ser desencadeada contra a Igreja na etapa final do grande conflito, talvez estejam sucumbindo às pressões que o adversário está exercendo o tempo todo. Enquanto imaginam a resistência que oferecerão à perseguição quando ela vier, estão sendo esmagados espiritualmente pelas várias pressões que Satanás sorrateiramente aplica a suas vítimas desapercebidas.
A perseguição é envolta numa aura de glória. Lembra as cenas no coliseu de Roma onde cristãos eram atirados às feias sedentas de sangue. Traz à mente a matança dos albigenses e valdenses durante a Idade Média, quando populações inteiras eram dizimadas no Sul da França ou nos Alpes italianos. Perseguição sugere o massacre dos protestantes na Noite de São Bartolomeu, ou o aniquilamento sistemático dos huguenotes depois da revogação do Edito de Nantes, em 1685.
Mas me pergunto se no clima mais tolerante de dissidência religiosa que prevalece em nossos dias. Satanás não tenha mudado de tática. passando da perseguição declarada aos seguidores de Cristo para o uso de pressões varias para levá-los a ceder e conformar-se. Perseguição afeta comunidades inteiras e desperta facilmente resistência valorosa, como foi o caso dos anabatistas na Alemanha, ou dos puritanos na Inglaterra. A pressão. ao contrário, é comumente silenciosa e moldada ao indivíduo.
As artimanhas de Satanás são bem ilustradas em seu trato de Simão Pedro. A par dos planos do adversário contra Pedro, Jesus o advertiu do perigo que corria: "Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo" (Luc. 22:31). Nada de perseguição estridente. Apenas uma pressão maliciosa para levar Pedro a negar seu Mestre. A descabida confiança própria de Pedro forneceu ao inimigo a oportunidade que desejava.
Se fosse atacado diretamente, Pedro teria resistido, como quando, na defesa de seu Mestre, "feriu o servo do sumo sacerdote, e cortou-lhe a orelha direita" (Luc. 22:50). Mas ao misturar-se descuidadamente com a turba no pátio de Caifás, Pedro distraiu-se, e foi facilmente levado a negar sua lealdade a Jesus. A pressão do grupo insolente foi demasiada para ele, e toda sua jactância de poder suportar prisão ou mesmo morte por amor de Cristo veio água abaixo.
Satanás é um inimigo ardiloso, e, enquanto a Igreja espera perseguição em grande escala, ele furtivamente exerce toda espécie de pressão para derrotar o cristão individual. Não exige fibra extraordinária para ser cristão na igreja, rodeado de amigos que abraçam os mesmos valores. Mais difícil é ficar firme quando confrontado pela caçoada de colegas de escritório ou de oficina.
Perseguições vêm por atacado e com publicidade. A pressão, como regra, é silenciosa e visa ao indivíduo. Apesar de sua bazófia, Pedro foi derrotado pela denúncia de uma simples criada. Não exige uma fé heróica para confessar a Cristo numa assembléia de crentes. E bem diferente quando a sós diante de uma turbamulta hostil.
Frequentemente amigos bem-intencionados tornam-se os instrumentos do inimigo para semear dúvidas numa mente titubeante. Esse foi o caso dos discípulos de João Batista. "Mas indagavam por que, se esse novo mestre era o Messias, não fazia nada para que João fosse solto? Como podia Ele permitir que Seu hei precursor fosse privado da liberdade e talvez da vida? Estas perguntas não deixaram de produzir efeito. Dúvidas que, do contrário, nunca teriam sido suscitadas, foram então sugeridas a João. ... Oh! quantas vezes os que se julgam amigos de um homem bom, e anseiam mostrar sua fidelidade para com ele, se demonstram os mais perigosos inimigos!" — O Desejado de Todas as Nações, págs. 214 e 215.
Em minha conversa com companheiros na fé, estou eu semeando dúvidas, ou estou fortalecendo sua confiança em Deus e na Igreja?
Uma derrota não é decisiva na guerra espiritual. Mas compromisso constante com as modas e ideologias mundanas pode ser fatal. Uma fatalidade tal foi Demas, de quem Paulo se queixou que, "tendo amado o presente século", abandonou o apóstolo e escolheu a estrada larga que conduz à perdição (II Tim. 4:10). Embora seu nome apareça ao lado do de Lucas. "o médico amado" (Col. 4:14). Demas deve ter flertado com o mundo antes de cair fragorosamente sob as pressoes a seu redor. Paulo talvez tivesse Demas em mente quando exortou os colossenses a buscar as coisas lá do alto, em vez de se afeiçoar às coisas "que são aqui da terra" (Col. 3:1 e 2).
Ocasionalmente o inimigo emprega tanto a perseguição como a pressão para derrotar o crente individual ou a Igreja. Tal foi o estratagema que usou com os crentes em Pérgamo, uma cidade tão Ímpia que João a descreve como o lugar "onde está o trono de Satanás" (Apoc. 2:13). Perseguição frontal resultou ao menos num mártir, Antipas, a quem as Escrituras honram com o título de "minha testemunha". Mais perigoso do que a perseguição, no entanto, era a pressão de mestres falsos. Havia em Pérgamo aqueles que sustentavam "a doutrina de Balaão" (verso 14). Balaão, um profeta apóstata, é lembrado como aquele que "ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel". A cilada escolhida não foi guerra declarada. Guerra não teria efeito nas circunstâncias. Mais eficaz que guerra seria um convite aos israelitas a participar de um grande festival pagão, uma bacanal moabita. A cilada satânica foi tão bem-sucedida que vinte e três mil israelitas caíram num só dia (1 Cor. 10:8). União com o mundo em práticas imorais faria mais do que perseguição violenta para solapar a igreja de Pérgamo.
Na carta à igreja de Tiatira, nada édito de perseguição, mas muito sobre ensinos perigosos. uma espécie de pressão mais sutil. Desta vez a advertência é contra o ensino de Jezabel, filha de um rei de Sidão, e uma promotora fanática do culto de Baal. Os resultados funestos de sua influência nos dias do rei Acabe cobrem diversos capítulos do primeiro livro de Reis. Seu alvo acariciado era levar Israel a abandonar o culto de Jeová e abraçar o de Baal com suas práticas orgiásticas. Jezabel teria obtido êxito esmagador não fosse o ministério corajoso de homens como Elias e Eliseu. Felizmente houve um remanescente em Tiatira que rejeitou esse ensino sedutor, e que não sucumbiu à pressão que Satanás exercia atrás dos bastidores (Apoc. 2:24).
O conselho dado pela Testemunha Fiel ao remanescente em Tiatira pode nos ajudar hoje: "Tão-somente conservai o que tendes, até que Eu venha" (verso 25). Eles possuíam convicções preciosas que não deviam abandonar sob circunstância alguma. Somente aqueles que mediante a oração e a vigilância resistem às pressões que um adversário astuto exerce sobre cada um de nós, estarão preparados a ficar inabaláveis na última crise que a igreja remanescente terá de enfrentar.
Fonte: Revista Adventista Dez/96
0 comentários:
Postar um comentário