9 de dezembro de 2008

O início da arqueologia bíblica e suas contribuições para as Escrituras

O início da arqueologia bíblica deu-se no ano de 1798. Para a a Igreja Adventista do Sétimo Dia, esta data tem um significado muito especial. Segundo a sua interpretação da profecia de Daniel 12:11, o tempo do fim começou nesse ano com o aprisionamento do papa Pio VI pelas tropas francesas.

A obsessão de Napoleão Bonaparte em conquistar o mundo, o levou até o Egito, onde foi encontrada uma estela* de basalto preto com uma inscrição trilingüe, a saber, o hieróglifo, a escrita cursiva egípcia chamada de demótico e por último o grego koinê, o mesmo grego do Novo Testamento.

Estudos foram desenvolvidos para a decifração de tal monumento. E em 1822, Jean-François Champolion, com 32 anos, conseguiu traduzir a inscrição nas duas primeiras línguas, já que o grego foi facilmente traduzido pelos especialistas. A inscrição narrava os triunfos do Rei Ptolomeu V Epifânio, e um decreto publicado na capital do antigo Egito, Mênfis, em 196 a.C. (Price, 2000, p.10).

Alguns anos após Champolion ter traduzido os misteriosos hierógifos, entra em cena a figura de Sir Henry Rawlinson. Foi através dele que uma inscrição milenar enigmática localizada na antiga Pérsia, hoje lrã, foi decifrada. Segundo Randall Price, documentos antigos datados de 500 a.C. chamavam-na de Baga-Stana ("a Casa de Deus") (ibid., p. 52).

Rawlinson por varias vezes ficou a uma altura de 1200 metros para descobrir o que realmente eram aqueles sinais parecidos com pontas de flechas. Os seus estudos foram beneficiados com uma inscrição semelhante encontrada na capital do antigo império Persa, Persépolis. Esse outro documento ajudou na possibilidade de que aqueles sinais no rochedo de Behistun não eram um tipo de decoração antiga, mas sim um tipo de escrita do antigo oriente, a escrita que por causa da sua chamada de Cuneiforme, do latim "em forma de cunha".

Quando o texto foi decifrado, uma frase chamou a atenção: Eu sou Dário, o grande Rei, Rei dos Reis, Rei da Pérsia." Este era o mesmo Dário I, Hystapes que havia governado a Pérsia entre os anos 522 a.C. até 486 a.C. No mesmo monumento é citado seu filho, Xerxes (Assuero), que casou com a personagem judia bíblica, Ester.
Se não fosse o esforço de Rawlinson e outros estudiosos em traduzir a escrita cuneiforme, não teríamos a informação de que a inscrição de Behistun não foi escrita apenas em uma língua, mas em três: babilônico, elamita e persa. (ibid., p. 53-55). Outro monumento em três idiomas assim como a Pedra de Roseta. O caminho estava aberto para o estudo das culturas egípcias e do antigo oriente.


ARQUEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO

O mundo do Antigo Testamento (AT) ganhou um colorido mais acentuado graças a um grande número de descobertas arqueológicas. No caso da criação por exemplo, podemos citar a epopéia Enuma Elish, que em acádio significa “quando das alturas”, que são as primeiras palavras da presente obra. Foi descoberta por Henry Layard na biblioteca do famoso monarca assírio Assurbanpal (c. 669a.C. a 630 a.C.), em Níneve, entre os anos 1848 e 1876. Foi publicada por George Smith (Unger, 2002, p. 10).

Smith também traduziu e publicou o épico de Atrahasis em 1876. Este, é uma visão babilônica do dilúvio bíblico caracterizada fortemente pelo politeísmo do antigo oriente. Outro documento extra-bíblico importante é o épico de Gilgamesh, que tem uma importância muito grande para a historicidade de um dilúvio universal tal como é narrado em Gênesis. Está registrado em 12 tabletes em cuneifmorme acadiano e foram publicados em 1872. O documento mesopotâmico apresenta alguns paralelos com o relato do texto mosaico, o que serve como evidência de que um mesmo evento serviu como base pata estes relatos. (Price, loc. cit., p.56. 62. 63).


Para o estudo de outras partes dos escritos veterotestamentários podemos citar algum as importantes descobertas como: o código de leis do monarca babilônico Hamurábi, datado de c. 1725 a.C.; a estela do faraó Merneptá. sucessor de Ramsés II, onde é citado pela primeira vez em um documento extra-bíblico o nome Israel em hieróglifos, datada de c. 1207 a.C.; os amuletos de prata descobertos por Gabriel Rarkay no Ketef (cotovelo em hebraico) Hinnom contendo a benção sacerdotal (Nm. 6:24-27, datados do 7º século a.C.; e o Cilindro de Ciro, que cita um tal de Bel-shar-usur que tem sido identificado como o Belsazar de Daniel 5, pode ser datado de c. 535 a.C. ( ibid., p. 58 e 59); a estela encontrada em Tel Dan por Avraham Biran em 1993 com a inscrição em paleo-hebraico: bytdvd, a casa de Davi, é datada do 9º século a.C. ( Hasel, 994. p. 7); e o obelisco negro de Salmanaser III onde o rei Jeú esta prostrado perante o monarca assírio, datado de 841 a.C. (Younker. 2000, p. 12).


ARQUEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

As narrativas do Novo Testamento (NT) também tem sido fortalecidas pela pá dos arqueólogos.
A historicidade de Pôncio Pilatos, por exemplo, foi atestada através de uma inscrição em latim descoberta pelo arqueólogo italiano A. Frova em 1961. Trata-se de uma estrela comemorativa a Tibério César datada de 26 d.C. a 36 d.C. (Price, loc. cit., p. 274 e 275).

É importante em lembrar que a arqueologia não se limita apenas a nomes ou pessoas, lugares são encontrados e cidades são identificadas. Tomemos Como exemplo a cidade onde Jesus cresceu, Nazaré. Segundo as escavações do Dr. Belarmino Bagatti entre os anos 1953 e 1955 na antiga cidade de Nazaré, ficou estabelecido que a cidade na época de Cristo tinha aproximadamente 500 habitantes e 700 a 900 metros de extensão. Diante destes dados, não nos surpreende a pergunta feita por Natanael a Filipe em João 1:46: “De Nazaré pode vir alguma coisa boa?’’ (Silva. 2000, p. 87).

Além destas contribuições da arqueologia para o NT podemos ai mencionar outras, tais como: o papiro John Rylands, que além de ser o documento mais antigo do NT datado de c. 125 d.C. possui alguns versos do capítulo 18 do evangelho de João; o ossuário do sumo sacerdote Caifás, mencionado nos evangelhos, sua data corresponde exatamente ao período após a crucificação, c. 42 a 43 d.C.; os códices de Nag Hammádi no Egito escritos em copta, dentre eles o evangelho apócrifo de Tomé datado do IV e V século da nossa era, e claro os famosos manuscrito do Mar Morto. Eles foram encontrados em 1947 por um pastor beduíno nas cavernas de Qumran, no deserto da Judéia e são datados de 225 a.C. até 68 d.C., obviamente abrangendo boa parte do período neotestamentárío. (Price, op. Cit., p. 274 e 275)

REAL OBJETIVO DA ARQUEOLOGIA BÍBLICA

A pergunta que algumas vezes surge na mente das pessoas é se e objetivo principal da arqueologia é “provar a Bíblia’’. Na verdade este não é o papel que deve ser atribuído a ela.
Para Shalom Paul e Bill Dever, esse é um erro cometido pelo mundo cristão de maneira até inocente. Pode ser que os relatos bíblicos ganhem uma asseveração maior a partir de uma descoberta, mas eles em si devem ser aceitos pela fé e a fé não esta sujeita à prova, nem mesmo pela arqueologia. O que deve ficar claro é que existem fatos que aumentam a fé, e há fatos que dependem da fé’’ (Shalom Paul e Bill Dever , apud Price, 2000,p. 281 e 291).



Bibliografia:

HASEL, Michael G. A casa de Davi. Revista Adventista, n. 9, p. 7, set.1994.

PRICE, Randall. Pedras que clamam. Rio de Janeiro: Casa Publicadora da Assembléia de Deus, 2001.

SILVA, Rodrigo P. Um desconhecido galileu. Engenheiro Coelho - SP: Imprensa Universitária Adventista, 2001.

UNGER, Merril. Arqueologia do Velho Testamento. Rio de Janeiro: Editora Batista Regular, 2002.

YOUNKER, Randall W. The Bible and Archaeology. Silver Spring: Institute of Archaeoloy Andrews University, 2000.


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